quarta-feira, 16 de julho de 2008

Velhos são os trapos...


(é igualzinho à minha avó)

"Nunca percebi qual a legitimidade política do G8 e por que razão um directório dos países mais ricos do mundo deveria ocupar-se - e tentar dirigir - da política mundial, à margem das Nações Unidas. No entanto, dada a irrelevância das últimas reuniões - e nomeadamente da última, que teve lugar em 7 a 9 do corrente mês de Julho, no Japão, talvez não tenha muito interesse, agora, tentar desmontar esse mistério da política internacional...

Numa situação de crise mundial - desdobrada em várias crises específicas - iniciada nos Estados Unidos, mas que está a estender-se, e com que velocidade, à Europa e, obviamente, aos países pobres de África, com repercussões na Ásia, é geralmente reconhecido e urgente, agora, regulamentar a globalização, dotando-a de regras éticas e transparentes, capazes de introduzir alguma ordem no capitalismo financeiro-especulativo (dito de casino), que está a conduzir o Ocidente ao desastre, gera, de um dia para o outro, fortunas colossais, nos chamados paraísos fiscais e leva à falência, ou perto disso, empresas centenárias como a General Motors ou grandes bancos até agora respeitáveis, para dar só dois exemplos entre algumas dezenas de outros...

Tratou-se disso no G8, como estava anunciado? Silêncio. Nada, porém, resultou de concreto. Está também em cima da mesa, e é muito urgente, a questão ambiental - as alterações climáticas, que tanto preocupam as pessoas - e tantas outras questões prementes, relacionadas com o tema, como as lixeiras nucleares que estão a matar a biodiversidade dos oceanos. Também nada de significativo foi resolvido. Houve novo adiamento, agendando o assunto para melhor oportunidade...

Ah!? Mas África estava convocada para o G8 do Japão, uma vez constatado o fracasso da reunião realizada no Reino Unido (ainda no tempo de Blair) com inúmeras promessas não cumpridas. Toda a África? Claro que não. Seria complicado, dados os problemas e conflitos existentes. Sete países, a saber: África do Sul, Argélia, Senegal, Gana, Tanzânia, Nigéria, Etiópia (uma parte ínfima da África de expressão islâmica, francesa e inglesa, com exclusão da África lusófona).

Aconteceu ter-se dado uma verdadeira confrontação entre os africanos presentes e os outros, com queixas e acusações de parte a parte... De um lado a corrupção, o nepotismo e a arbitrariedade dos Governos africanos; do outro, as promessas de auxílio feitas e sempre adiadas... Mugabe não foi condenado, como queriam os ocidentais. Nem podia sê-lo, com o voto dos africanos que têm telhados de vidro... E, por outro, as promessas de ajuda foram adiadas, mais uma vez, em época de crise, para nova reunião. A excepção foi a sr.ª Merkel, que confirmou e aumentou a ajuda alemã a África. Honra lhe seja.

A reunião do G8 teve ainda a presença de Dmitri Medvedev, em substituição de Putin, uma estreia silenciosa, sem história, e a costumada ausência de um projecto coerente e concertado para a crise e a falta de vontade dos tristes governantes ocidentais para a resolver. Uma irrelevância política absoluta. Esquecia-me: no final, plantaram colectivamente algumas árvores, o que foi um gesto bonito. Sem dúvida..."

Mario Soares DN 15/07/08



Agora me lembro a razão pela qual votei nele nas presidenciais...

6 comentários:

Scissorhands disse...

Vamos todos parar ao cano. Puxem o raio da tampa do ralo para ir tudo pelo cano abaixo.

Está o mundo inteiro fascinado com a desmaterialização do dinheiro, porque o dinheiro já não corresponde a nada físico. O dinheiro que os bancos emprestam não existe, não é o dinheiro dos depósitos: o dinheiro é criado a partir da nossa assinatura e da nossa garantia de que vamos pagar o empréstimo, e com base nisso conjura-se a existência do dinheiro. É o fascínio da alquimia, estamos a criar riqueza (que era ouro) a partir do nada, mas é dinheiro sem substância, que só existe enquanto se acreditar que esse dinheiro existe.

Para quem leu a História Interminável (ou, especialmente, o Momo) e se apercebeu que o que o Michael Ende escrevia não eram exactamente histórias da carochinha, deixo isto:

http://www.equilibrismus.de/en/topics/general/rm-michael_ende.htm

Anónimo disse...

Pois!!! Esqueceu-se dos tempos do acordo do Alvor, e de como com o seu facilitismo e o seu emproanço natural, conseguiu contribuir também para a luta fraticida entre os Angolanos. Pimenta no cú dos outros é refresco....

carla disse...

O facto de ele não ter ganho as presidenciais, fez com que ele agora possa falar assim...

jzz disse...

Scissor:

Tudo isto foi previsto pelo Marx, é o resultado natural da concentração capitalista e dos share-holders como centro de controle das decisões a nivel nacional e internacional.

Por mim, LET IT BURN! Talvez assim entendam que não estamos no fim da história, pelo menos em termos sócio-económicos e políticos. (em termos ambientais, já se verá...)

O problema são as viragens à direita, tambem neste páis de gente insípida, das quais muitas, ainda hoje, e com um anacronismo que me fatiga, veneram Salazar.



anônimo:

O Mario Soares não é nenhum Santo, cometeu muitos erros, nomeadamente esse que referiste, embora considere que o quadro político e social, a pressao da opiniao publica e dos militares dificultava decisões diferentes.

Todos cometemos erros, mentimos, enganamos alguem, varias vezes nas nossas vidas, mas acho que não deve ser so isso a catalogar as nossas personalidades e actuações.


O pensamento actual do Mário Soares enquadra-se na minha maneira de ver o mundo, o que para mim é admirável porque eu tenho 32 anos e ele 80.

Na minha opinião é um dos maiores pensadores políticos da actualidade, em Portugal só podendo ser equiparado a ele o Boaventura de Sousa Santos.

Mas isso sou eu, que sou de esquerda...

Anónimo disse...

A anos luz do novo pensamento que não renega História mas não se associa aos antigos anátemas de esquerdas ou direitas mas se conjuga com novos humanismos, considero no entanto o Matusalém da politica, vulgo, Mário Soares, um iluminado de coisas feitas sem lhe tirar o valor cultural que o leva sempre a contornar o mal feito e "pular e avançar" para conseguir do seu lado pessoas interessantes e inteligentes como o meu amigo viajante José "o caminheiro".

ana sardoeira disse...

Este senhor faz-me sempre lembrar aquela musiquinha: "demagogia feita à maneira..."