por Sérgio Lavos
1) O PSD, o CDS e Cavaco Silva (aquele que hoje denunciou, sem se rir, colocando a sua melhor cara de pau, a "intriga política") tinham razão para estarem preocupados com o regresso de Sócrates. Sobretudo o CDS, que reclamou contra a sua escolha pela RTP.
2) Dois anos depois, Sócrates conserva todas as suas qualidades e todos os seus defeitos. Continua a preparar-se de forma superior para as aparições em público, estuda os dossiers, sabe conduzir a entrevista e controlar o seu ritmo, falando apenas do que quer que seja falado, e nos seus termos. Também continuam presentes a arrogância e a crispação - Paulo Ferreira foi quem mais sofreu com isso.
3) Tudo somado, olhando para Sócrates percebemos por que razão António José Seguro nunca se conseguirá afirmar como líder da oposição. E percebemos também que ao estilo untuoso e bem colocado de Passos Coelho - perigoso na sua essência porque as mentiras passam de forma mais açucarada e agradável - terá de se opôr um estilo combativo e truculento, capaz de se afirmar fugindo ao ramerame da moleza da actual oposição.
4) Todos sabíamos que Cavaco Silva é o sonso mais bem sucedido da vida política portuguesa. O político profissional há mais tempo no activo, sem nunca deixar de se fazer passar por não político; o intriguista que tece na sombra as sombras do seu poder; e o egocêntrico inseguro que tenta pairar acima da sujeira da política. José Sócrates fez muito bem em atacá-lo directamente, afirmando num palco bem visível o que já se vinha sendo dito em surdina há muito tempo. Cavaco conspirou para fazer cair o Governo de Sócrates. E não foi apenas em 2011. Antes das eleições de 2009, já o tinha tentado. Nunca deixou de fazer letra morta do dever de isenção a que a sua função obriga, tentando derrubar os dois governos de Sócrates, mas também continuando a manter este Governo em funções, apesar do descalabro do país. Cavaco não só não está acima da política, como não está, de modo algum, acima dos partidos. E demonstrar esta evidência terá sido o maior contributo desta entrevista.
5) Daqui para a frente, o Governo não vai poder dormir descansado com os comentários semanais de Sócrates. Hoje já deu a entender o que aí vem, querendo falar dos erros de governação que estão a ser cometidos. Foi pena que os dois entrevistadores - uma vez mais, com uma prestação fraca - não o tenham deixado desenvolver esse tema. Dificilmente regressará à política activa, mas será muito importante na definição do debate público. Se a sua contratação foi uma jogada do Dr. Relvas, o tiro terá saído pela culatra. Mais um, de resto. A continuar assim, o Governo não durará muito. E não cairá; sairá com benzina, porque é uma nódoa.
in "Arrastão"
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