quinta-feira, 17 de maio de 2012

Greve dos controladores

Hoje senti na pele mais um dia da greve destes srs, e quando cheguei a casa decidi saber em pormenor o que eles reivindicavam. Não foi fácil, porque parece que as suas reivindicações não são noticia, nem é preciso saber...mas encontrei e aqui estão num artigo ainda relativo à primeira greve que não teve nenhuma resposta do Governo e fez com que fizessem mais greves este mês. O texto é um bocado longo, mas elucidativo!
... A sustentar a greve está a contestação ao corte de custos em 15 por cento aplicado ao setor empresarial do Estado, que, na perspetiva da Comissão de Trabalhadores, acabará por resultar em perdas de monta para os cofres do Estado. A estrutura representativa dos profissionais da NAV sublinhou ontem, numa nota citada pela agência Lusa, que não há “outra alternativa” além da “manutenção das greves parciais convocadas para este mês”, dada a falta de respostas do Governo e do próprio Conselho de Administração. Os trabalhadores chegaram a descartar a via da greve há cerca de um mês, na sequência da nomeação do Conselho de Administração. “Infelizmente pouco ou nada aconteceu entretanto e a NAV e o país continuam a sofrer diariamente os efeitos nefastos das decisões em vigor, perdendo milhões de euros em receitas e exportações, e estando a ser criadas condições para uma eventual alienação, a prazo, de espaço aéreo nacional”, advertiu o coordenador da Comissão de Trabalhadores, Carlos Felizardo, na nota de quarta-feira. No final de março, ao apresentarem o pré-aviso de greve, sindicatos e Comissão de Trabalhadores exigiam já “uma alteração das políticas restritivas cegas que desrespeitam os trabalhadores e a gestão da empresa e fazem com que o país jogue fora muitas dezenas de milhões de euros em exportações”. Perdas de “mais de 75 milhões de euros” Ouvido esta manhã no Bom Dia Portugal, Carlos Felizardo calculou em “mais de 75 milhões de euros” as perdas a encaixar pelo Estado no segmento das exportações com a aplicação de cortes nos custos da NAV Portugal. Isto porque a empresa, vincou à RTP o coordenador da Comissão de Trabalhadores, labora ao abrigo de regulamentos internacionais que associam o pagamento de serviços de segurança aérea ao volume de custos. “A NAV está regulamentada internacionalmente e submete-se a essa regulamentação internacional de acordos que o Estado português estabeleceu. As taxas de rota que pagam o nosso serviço respondem em função dos custos que a empresa tem. Ao reduzir custos, reduzimos a taxa e reduzimos o capital que nos pagam, quer a nível do pessoal, quer a nível de investimentos, quer de todo o orçamento que a empresa tem. Por isso, a aplicação deste tipo de medidas numa empresa que sempre foi rentável, que sempre deu muitos milhões ao país, neste momento está a perder e a fazer o contrário daquilo que são os objetivos tão necessários às necessidades do país”, propugnou o responsável. A Comissão de Trabalhadores apoia-se no facto de a NAV Portugal ser responsável pelo tráfego aéreo de uma das mais amplas Regiões de Informação de Voo (RIV) do mundo – abrangida pelos centros de controlo de Lisboa e de Santa Maria, no arquipélago dos Açores, onde é seguida boa parte das ligações aéreas entre a Europa e o Continente Americano – para reclamar a defesa de uma “invejável posição estratégica no Atlântico Norte”. “Esta greve tem por objetivo chamar a atenção do Governo e do país sobre a situação em que a NAV se encontra. A NAV é uma empresa não deficitária, que não depende do Orçamento do Estado, é uma empresa exportadora do serviço de segurança aérea para o espaço aéreo de mais de metade do Atlântico Norte e do país”, acentuou Carlos Felizardo, para salientar que a Comissão de Trabalhadores procurou “minimizar efeitos” com a opção por uma “greve curta”, uma vez que não está “contra nem as companhias aéreas, nem os passageiros”. “Esta é só uma chamada de atenção para que o Governo abra a porta ao diálogo e responda às reivindicações que nós já apresentámos a todos os partidos políticos, na Assembleia da República, na comissão de Economia, já apresentámos aos dois ministérios que nos tutelam, quer o da Economia, quer o das Finanças, e continuamos sem resposta”, rematou.


Amanhã lá estarei a continuar a levar com esta luta...

5 comentários:

jzz disse...

Nao entendi se os controladores recebem de acordo com o volume de negócios, é isso?

carla disse...

Não. Eles ganham o ordenado normalmente e ganham bem, segundo dizem. Mas se forem privatizados, naturalmente que algo vai mudar... Agora eles reivindicam é a razão de estar a privatizar uma empresa viável, com lucro e é o nosso espaço aéreo!!!
Privatizar a energia, as águas, depois será o ar e a seguir o mar???

N disse...

Carla e jzz, aproveito para esclarecer a confusão, a nossa empresa não está em vias de privatização, a NAV é uma empresa pública estratégica, regulada por orgãos como a ICAO e a EUROCONTROL, esta última sendo a que é responsável por todo o "cash flow" referente aos movimentos de aeronaves no espaço aéreo europeu.
O EUROCONTROL regula todas as empresas que funcionam nestes moldes a nível europeu, e legisla em adição a outros órgãos os mecanismos de segurança, procedimentos e facturação. Todas as empresas que prestam serviços de controlo de tráfego aéreo não podem dar lucro. Isto porque, estas empresas só recebem da EUROCONTROL o dinheiro que efectivamente cada empresa gastou para prestar estes serviços às aeronaves. Estes cálculos são extremamente legislados e regulamentados, e reflectem-se em taxas de rota e de área. São estas taxas de rota e área que constituem a unidade básica de facturação, e se num ano a empresa recebeu dinheiro a mais tem que o devolver á EUROCONTROL. Vejamos, portugal teve 25milhoes de movimentos de aeronaves num ano, e gastou com pessoal e manutenção 10milhoes de euros. A EUROCONTROL no inicio do ano e com base nos cálculos e estimativas feitas para o ano que iria decorrer deu 12milhoes de euros a empresa. Como a empresa não justifica essa despesa esse dinheiro tem que voltar para tras. entao porque nao declaram mais despesa? simplesmente porque esta taxas de rota estão calculadas para esse efeito, têm em conta o custo efectivo e necessário para a prestação de serviço. Travando assim a exploração desse recurso. Todos os gastos são tidos em conta para chegar a um valor unitario de taxa de rota. Ora é aqui que o estado mete a colher e mal. Ao obrigar a empresa a reduzir custos, (tenhamos em conta que esta empresa é dependente do estado em ZERO euros, aliás, contribui em sede de irs e seg social pelos seus trabalhadores e pela remuneração de capital em 9% todos os anos que a EUROCONTROL remunera ao estado por disponibilizar os seus recursos e espaço aereo para os fins da aviaçao)obriga a empresa a reduzir as suas taxas de rota, levando a empresa a devolver milhoes de euros que entrariam de outra forma em portugal, e conduzindo a empresa a um impasse em relação ao futuro em que ela própria pode se tornar insustentavel. Para terem em conta, sao dezenas de prestadores de serviços na europa e portugal sempre esteve entre os 6 primeiros nas duas ultimas decdas, frente a frente com paises como a UK, alemanha, frança, espanha, etc... em produtividade, eficiencia e inovação! feito que comprova a competencia portuguesa, numa das areas cientificamente mais complexas actualmente! Sao 3 da manha e tenho medo de divagar demasiado no assunto, e tentando resumir, queria dizer as taxas de rota portuguesas sao cerca de 4 vezes mais baratas que as dos nossos "hermanos", e por cada controlador portugues temos cerca de 250% a mais em produtividade, cada controlador portugues controla mais avioes que os espanhois, recebe menos, é mais eficiente, mais competitivo, mais produtivo e com orgulho! Pena, é que com estas medidas e com acordos nomeadamente o que foi assinado dia 17 deste mes em pleno periodo de greve da nav e nas nossas costas!!! o governo planeia a entrega deste espaço para os espanhois que se regozijarao em aplicar as suas taxas de rota no nosso espaço aereo e dai retirar os seu dividendos! Um roubo puro a portugal, e uma classe como a nossa que passara a deixar de existir e pq? quem ira amealhar milhoes c este negocio??? quem? enfim... o tempo urge respostas! e acçoes... a comunicação social infelizmente controlada por "sabemos nós lá quem" não revela a verdade por trás da greve...Nem a nossa audição no parlamento foi anunciada...nada é claro, e nós continuamos sem respostas sobre o nosso futuro, do espaço aereo dos portugueses e dos intersses nacionais.
Receio ter alongado demasiado e mesmo assim sinto que não consegui explicar tudo, mas se tiverem dúvidas com todo o gosto responderei.
Abraço
Rui Neredo

Paulo disse...

Que sorte que tive esta greve nao me ter afetado...

carla disse...

Obrigada pela explicação Rui, fica reforçada a ideia que estratégia é coisa que este governo ( e outros) não têm, pelo menos em prol do país...


Paulo A.Rod, e tu onde estás? Já cá andas?